Baronesa, escolhidos dentro da própria comunidade. Ficou marcado na história de seus carnavais o primeiro Rei Momo Negro de Porto Alegre, Adão Alves de Oliveira, mais conhecido como Lelé, que exerceu seu reinado no Areal da Baronesa de 1948 a 1951.
No final do primeiro carnaval do Areal da Baronesa com dois Reis Momo, Lelé
foi cumprimentar Macalé, o qual retribuiu entregando-lhe o cetro que estava utilizando.
Estes gestos simbolizavam a paz entre os reinados do Momo Branco e do Momo Negro.
...Com a linda festinha de Domingo, organizada no coreto oficial, instalado
à rua Barão do Gravataí, defronte à travessa Pesqueiro, foram encerrados
com chave de ouro os folguedos do corrente ano. Na metade das
solenidades, sua Majestade o “Momo Preto”, num gesto de verdadeiro
altruísmo e compreensão veio trazer seu abraço amigo à sua Majestade o
“Imperador Branco”, que ao corresponder a saudação entregou-lhe seu
bastão de regente.
No entanto, analisando-se mais de perto, pode-se perceber pequenas sutilezas
que diferenciavam o reinado do Momo Branco e do Momo Preto no Areal da Baronesa.
O carnaval da Rua Miguel Teixeira era realizado por foliões que tinham um capital
econômico e simbólico21 mais efetivos que o carnaval realizado na Rua Barão com
Baronesa de Gravataí, onde ficava o coreto de Lelé.
Como explica Lelé, o carnaval organizado por Macalé na Rua Miguel Teixeira
contou com uma estrutura melhor desde o início, pois teve a colaboração de alguns
oficiais graduados e comerciantes, conseguindo com maior facilidade dinheiro e
patrocinadores. O carnaval da Rua Barão com a Baronesa de Gravataí, ao contrário, era um carnaval que enfrentava maiores dificuldades, contando com o apoio quase que exclusivo da comunidade.
“...Esse era o carnaval que iniciou no Areal da Baronesa, e que foi de 48,
49, até mais ou menos 51. Anexo, depois desse nosso evento, já no ano
seguinte, aí já existia dois carnaval no Areal da Baronesa. Aí tava criado
assim um problema. Aquela coisa que era o carnaval da Miguel Teixeira.
Aonde então surgia o Rei Momo, aí o Rei Momo branco no Areal da
Baronesa. Que era dois Rei Momo no mesmo bairro. Não mais um só. Que
era o Rei Momo Macalé. Que hoje é capitão reformado da Brigada, e que é
o presidente das Entidades Carnavalescas aqui de Porto Alegre e Rio
Grande do Sul. Aí era o carnaval do Areal da Baronesa, propriamente dito,
e o carnaval da Miguel Teixeira. Mas que quase ninguém, a maioria
desconhecia essa parte assim de dizer que ali no Areal da Baronesa tinha
dois carnavais. Tinha o do Areal da Baronesa que era o da Barão com a
Baronesa. E tinha o outro, que era o da Miguel Teixeira. Todo mundo
sabia que ali tinha carnaval. Quando chegava a época, todo mundo queria
ir pra lá brincar. Não pensava nessa coisa aí. E só ficava lá entre eles
porque carnaval da Miguel Teixeira eram outras cabeças, outras pessoas.
Alguém que disse assim: não, vamos aproveitar essa ocasião propícia.
Porque o Arlindo Rosa, esse que criou o Areal da Baronesa, tinha
dificuldade. Era, bem dizer, ele praticamente sozinho. E esse da Miguel
Teixeira, já não. Esse tinha o Dorival Leivas, o sargento Teixeira, o
Vitório que era dono de um bar. Então eles já fizeram assim, pode-se dizer,
em comparação com o nosso, 100%. Com suas rainhas, faziam concurso e
tudo. Passaram aí no comércio, coletando grana, conseguiram
patrocinador e fizeram um carnaval bacana mesmo, estilo
Mas o nosso evento foi criado primeiro no Areal da Baronesa, na poeira. A
Miguel Teixeira era calçadinha e tudo. Mas o nosso não...“
Macalé, o Rei Momo Branco do Areal da Baronesa, também se refere ao
carnaval da Barão com a Baronesa como uma festa mais precária do que o da Rua
Miguel Teixeira e mais identificada ao Rei Momo Negro Lelé, enquanto associa o
surgimento do carnaval da Miguel Teixeira ao apoio de políticos:
“...na Baronesa tinha um carnaval importante, muito importante: era o
Rei Momo preto. Ali não tinha Rei Momo branco esse lugar vai ser
muito difícil para ser substituído. Então a gente começou, e antes a Miguel
Teixeira era uma quadrinha de 100 metros como isso aqui. E ali morava
uma meia dúzia de moradores e a gente começou a se unir, aqueles
elementos, eram quase todos eram gremistas. E aí então nós começamos o
Rei Momo preto na Baronesa, então fomos fazer o carnaval na Miguel
Teixeira. Com a influência de alguns políticos da época .Tinha uma
meia dúzia de moradores, tudo irmãos e molecão, montamo .Eu recebi
na Rua Miguel Teixeira numa noite 47 grupos .A Baronesa não era nem
calçada, era areão. Pessoal assistia o carnaval, podia chegar e tomar um
banho para deitar, porque a cabeça tava de areia que era uma coisa de
louco, de poeira.”
Este depoimento de Macalé novamente remete à influência do Riachinho no
cotidiano dos moradores da Cidade Baixa. O carnaval do Areal da Baronesa, inclusive,era popularmente conhecido como o “carnaval na areia”. Segundo alguns
depoimentos, as rodas de samba do Areal levantavam muita poeira e, à medida que a
batucada e as danças iam “esquentando”, as pessoas ficavam com as roupas e os
cabelos empoeirados, pois as ruas eram de chão batido. O carnaval na areia era
freqüentado pelos melhores grupos carnavalescos da cidade, os quais eram compostospor descendentes de africanos.
O Carnaval na “Areia”
O carnaval do corrente ano na Rua Barão de Gravataí foi um dos mais
animados da Cidade. No Coreto Oficial, instalado a Rua Barão de Gravataí,
defronte à Travessa Pesqueiro, atuou quase permanentemente uma animada
banda de música que animou os folguedos. Terça-feira última, em
obediência ao programa oficial a Comissão Julgadora efetivou o concurso
geral. Dentre os 27 cordões, grupos, etc. foram classificados os seguintes,
que estão convidados para receberem os prêmios a que fizeram jus, a partir
das 19 horas de Domingo próximo:
Em conjunto:
1. Lugar –“Democratas”;
2. Lugar – “Aspirantes do Samba”;
3. Lugar –“Granadeiros da Alegria”.
Em solista:
1. Lugar – “Mensageiros do Samba”;
2. Lugar – “Garotos da Boemia”;
3. Lugar - “Democratas”.
Em brilhantismo:
1. Lugar – “Nós os Comandos”;
2. Lugar – “Marmoeiros”;
3.Lugar – “Piratas da Margem”.
Em sambistas (Baianinhas):
1. Lugar –“Aspirantes do Samba”;
2. Lugar – “Granadeiros da Alegria”;
3. Lugar –“Cabo Laurindo”
Lelé, os moradores da Rua Miguel Teixeira não saíam de seu território,
faziam um carnaval bem localizado, diferente dos carnavalescos do restante do Areal,
que circulavam o tempo todo com seus blocos e cordões pelas diversas ruas da Cidade
Baixa.
“...Era tudo uma coisa só [o carnaval de Lelé e Macalé]. O pessoal não
sabia. Só que o pessoal da Miguel Teixeira não saía. Os moradores mesmo
dali, ficavam ali, aquela beleza, aquela maravilha. Nem precisavam sair de
casa. E o outro pessoal, da Baronesa, não. Eles tinham a Barão. Eles
vinham fora a fora pela Barão e entravam pela Baronesa. Ali tinha mais de
oito ou dez bares, inclusive o Macalé tinha barzinho ali, tudo [...] e isso não
deixava de existir. Essas coisinhas, essas briguinhas, como existe até hoje
nas grandes vilas. Mas tudo isso até se tornava em festa no Areal da
Baronesa. Muitas avenida, tinha mais ou menos umas nove ou dez
avenidas25 ali, não é? Tudo morava ali. Então a gente até sentia falta, até
parecia que era carnaval, parecia que o dia que não tinha uma
briguinha..”
O bar de Macalé, localizado na Rua Baronesa do Gravataí, reunia inúmeros
componentes dos blocos e cordões carnavalescos e estava inteiramente integrado ao
Areal, enquanto zona de quartéis e território negro. Como lembra o próprio Macalé,
“...eu tinha um bar ali, tudo oficiada, oficiada e negrada...”, referindo-se à clientela de
seu bar, composta por um grande número de oficiais e negros.
A partir de 1950, Vicente Rao, como Rei Momo oficial da cidade, também
passou a percorrer de caíque o trajeto do Riachinho, indo desde a Ponte de Pedra até a
ponte do Menino Deus, ao lado da Ilhota, dando início ao carnaval da cidade naquele
território.“
E tinha também por parte do Vicente Rao, a chegada do Rei Momo.
E naquele tempo era diferente do Rei Momo atual. Ele tinha o seu
secretariado. Tinha um cidadão lá com um fraque e um livro bem grande. E
mais uma meia dúzia de pessoas. Então tinha um coreto, já oficial, ali da
João Alfredo que até então o Rao fazia, às vezes, uma chegada pelo Riacho
que não existe mais, que tinha a tal famosa Ponte de Pedra. Então o
Rao chegava ali naquela Ponte de Pedra. Dali então se deslocava uma meia
quadra mais, dentro da João Alfredo mesmo, aonde encontrava seu coreto,
com os clarins já anunciando a chegada de Momo, aquela coisa...”
Algumas vezes, Vicente Rao fazia esse trajeto ao contrário. Embarcava na
Ilhota, em frente à Praça Garibaldi, e ia descendo o Riachinho, margeando o Areal até
alcançar a Ponte de Pedra. Essas trajetórias pelo Riacho e as descidas nas ruas do Areal e da Ilhota também faziam parte do percurso do Rei Momo Negro Lelé e eram
acompanhadas por inúmeros foliões, blocos e cordões carnavalescos.
“...O qual na minha época de Rei Momo, as quatro vezes eu vim pela Praia
de Belas, eu chegava ali na Ponte de Pedra. Ali me aguardavam. Então eu
pegava a João Alfredo, fora a fora, entrava ali na Av. Getúlio Vargas,
esquina com a Barão do Gravataí, e entrava na Barão do Gravataí. Pra
depois ir para o meu coreto lá com a esquina da Baronesa do Gravataí...” 28
Macalé, Rei Momo Branco do Areal da Baronesa, fazia este mesmo itinerário
percorrido por Lelé e Rao. Embarcava em um caíque nas águas do Guaíba, entrava no
Riachinho, passava por debaixo da Ponte de Pedra, seguia em direção ao Areal e à
Ilhota e, ao desembarcar, percorria algumas ruas até chegar ao seu coreto, montado na
Rua Miguel Teixeira:
“...ali na Praia de Belas, ali tinha um velho, que tinha um depósito de
melancias e tinha um barco, então pegava o barco ali, fazia a volta, passava
por debaixo da ponte dos açorianos e ali defronte .Eu pegava ali na
esquina da Praia de Belas, bem defronte onde hoje tem a Churrascaria
Garcia. Isso mesmo, ali eu pegava. Tudo ali era água, o IPE ali, não tinha
nada disso. Então nós fazia a volta, passávamos também debaixo da ponte.
só tinha um riachinho que passava por debaixo da ponte dos açorianos.
Daquele canto ali, eu pegava os que descia e a negrada tava me esperando
tudo ali, tudo em forma. Ali iam 10, 12, 15 grupos carnavalescos e vinham
embora. Entrando a João Alfredo abaixo fazendo zueira até...vínhamos até a
esquina da Getúlio Vargas com a Barão de Gravataí, ali eu dobrava à
direita, pegava toda a Barão, fazia toda a Barão até esquina com a
Baronesa, dobrava, ia até a igreja do Pão dos Pobres e dali voltava. Mas
aquilo era um delírio. Vê que as escolas eram tão grandes que nós fazia um
coreto de 15m, 16, 20...”
Um dos pontos onde havia maior circulação de foliões no carnaval de rua da
Cidade Baixa era na Rua João Alfredo, na época denominada Rua da Margem por
margear o Riachinho que foi aterrado nos anos 50. Nesta rua, filas intermináveis de
automóveis oriundos de diferentes pontos da cidade desfilavam em corso, e inúmeras pessoas comprimiam-se nas calçadas para assistir aos desfiles de carros e fantasiados.
O Carnaval na Rua da Margem
Foi simplesmente um sucesso o carnaval da rua da Margem. Logo ao
primeiro dia a crítica o cognominava de “O melhor trecho”. Muito
concorreu para o brilhantismo dos festejos o aparelho de rádio, colocado à
frente da residência do esforçado presidente da S. C. Piratas do Riacho.
Esta sociedade muito trabalhou, tendo visto seus esforços coroados de pleno
êxito. O corso que esteve muito movimentado terminou pela madrugada,
com pesar dos foliões, pois realmente estavam entusiasmados. Os louros da
vitória são ostentados com muito orgulho pela comissão de festejos da S. C.
Piratas do Riacho ...
Outras ruas também marcaram o carnaval do Areal da Baronesa e da Ilhota,
tanto por serem parte dos itinerários dos desfiles dos blocos, tribos e cordões, como por ali estarem localizadas inúmeras cavernas, que podiam ser no quintal de alguém, nos bancos da Praça Garibaldi, numa casa alugada ou cujo proprietário fosse componente ou simpatizante do grupo. A Rua Barão de Gravataí, Baronesa de Gravataí, Miguel Teixeira, Travessa Pesqueiro, Cel. André Bello, Lobo da Costa, Sebastião Leão,Venezianos, Lopo Gonçalves, Luiz Afonso, República, Lima e Silva, José do Patrocínio, Venâncio Aires e Praça Garibaldi foram os principais pontos de cavernas e de circulação de foliões no carnaval do Areal da Baronesa e da Ilhota.
Existiam inúmeros coretos montados no interior da Cidade Baixa, e a distância
que os separava chegava a ser inferior a 100 metros, como no caso dos coretos de Lelé e Macalé, que ficavam muito próximos um do outro. A Rua Barão de Gravataí, por exemplo, possuía mais de um coreto, como o da Travessa Pesqueiro e o da Baronesa de Gravataí.
A relação entre a Brigada Militar e os carnavalescos negros do Areal e da
Ilhota é constantemente referida em diversos depoimentos de carnavalescos que
viveram o carnaval dos anos 30 e 40 nesses territórios. A Banda da Brigada, inclusive, animava o carnaval dos coretos montados no Areal da Baronesa. As circularidades eram inúmeras e iam desde os músicos aos instrumentos musicais que, inclusive, influenciaram a própria musicalidade dos blocos e cordões carnavalescos populares que se originaram nesses territórios. Pois, esses agrupamentos carnavalescos, muitas vezes, eram dirigidos e compostos por músicos e instrumentos da Banda da Brigada.
“...Ainda me lembro, por exemplo, Os Tesouras, Prediletos, Turunas, Rei da
Pândega, Ideal, Chora na Esquina, Não Te Metas, Os Tigres, Borboletas,
Deixa Mágoa, etc. E o concurso foi vencido até pelo Pois Olha. Não sei se
eu já tinha falado, que foi o campeão. Porque o favorito era Os Tesouras
vinha ganhando sempre, sempre. Mas com surpresa naquele ano, foi
por volta de 1931, estavam concorrendo e a Comissão Julgadora achou por
bem de dar o concurso para o Pois Olha porque, em determinado momento,
até então quando Os Tesouras executaram sua marcha carnavalesca
houve um breque a mais. Causador disso foi os tais de prato. Daqueles
que usam muito na Banda da Brigada. E aquilo foi muito notado. E depois,
em seguida, entrou o Pois Olha, mais modesto, mas porém fez tudo certinho.
Então saiu campeão de 1931...”
O desembarque do Rei Momo Lelé no Areal da Baronesa era anunciado por
clarim, instrumento característico de bandas militares, demonstrando esta circularidade de músicos e instrumentos existente entre os agrupamentos carnavalescos populares, compostos por descendentes de africanos, e as bandas militares.
“...E aí já começou os clarins a tocar. Conseguiram duas pessoas aí do
Regimento Osório, clarins, né? Eles tocando alto e bem forte...”
O próprio surgimento do carnaval da Rua Miguel Teixeira, um dos mais
populares do Areal da Baronesa, onde Macalé, ex-capitão da Brigada Militar, era Rei
Momo, foi anunciado por material impresso na gráfica da Brigada, o que lhe conferiu
desde o começo um ar de distinção e de requinte, se comparado ao carnaval da Rua
Barão com Baronesa de Gravataí, de estrutura mais precária, organizado por pessoas com menor capital, material e simbólico, em relação aos poderes instituídos. Pois, como demonstrei no capítulo anterior, havia um grande esforço por parte desses agrupamentos carnavalescos compostos por descendentes de africanos de serem vistos como disciplinados, organizados, sem bêbados ou elementos perturbadores da ordem.
Neste contexto, ter acesso a uma gráfica, ainda por cima da Brigada Militar, e
poder imprimir comunicações avisando o surgimento do carnaval da Miguel Teixeira
em papel timbrado, distingue desde o início este carnaval dos demais existentes no
interior do território do Areal da Baronesa. Além do mais, o carnaval da Miguel
Teixeira contou com o apoio de políticos e oficiais graduados da Brigada Militar. Isto
refletiu-se no próprio apoio material recebido pelo carnaval da Rua Miguel Teixeira que entre seus colaboradores teve, além da própria comunidade, empresas como Caldas Júnior, à qual pertencia o Correio do Povo, Brahma, produtora de cerveja e refrigerantes e Cia. Química Rhodia Brasileira, que produzia lança-perfumes. Como explica Macalé:
“...Como a minha profissão é gráfico, me facilitou o trabalho. Eu fui lá na
tipografia da Brigada, eu trabalhava ali e imprimi umas comunicações,
levando ao conhecimento que a partir daquela data tinha um novo carnaval
de bairro que era na Miguel Teixeira, aquela conversa fiada toda. Sabe
como é que é? Que aguardava colaboração. Imprimimos envelopes
todo timbrado, bonitinho, bem feitinho.Bom, aquilo ali frutificou
aquela minha idéia, carnaval novo, ia crescer e o pessoal a vim. Aí fizemos
um concurso de rainha, arrumamos as gurias da época ou senhoras casada.
O primeiro carnaval, o primeiro concurso, arrumamos oito. Sabe quanto é
que custava o voto? 500 réis. Arrumamos 40.000, 40 pau, 40 cruzeiros.
Então foi uma coisa de louco. Quem colaborava muito conosco era o
Correio do Povo, dava a taça do primeiro lugar a Companhia Química
brasileiro que fazia o famoso lança-perfume a Brahma..que a zona
era muito pobre, a gente sábado de tarde nós saíamos, naquelas vilas,
então o que a gente fazia? Ia pedir dinheiro pra eles, então saía 500 réis
num, 200 réis noutra, um pila noutro, os butecos, então tinha uns três,
quatro bar ali, que tinha um monte, movimentados, uma coisa de louco...”
fonte :Iris Graciela Germano
RIO GRANDE DO SUL, BRASIL E ETIÓPIA:
os negros e o carnaval de Porto Alegre
nas décadas de 1930 e 40.
Dissertação apresentada como
requisito parcial à obtenção do grau de
Mestre em História, Programa de Pós-
Graduação em História, Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Baronesa, escolhidos dentro da própria comunidade. Ficou marcado na história de seus carnavais o primeiro Rei Momo Negro de Porto Alegre, Adão Alves de Oliveira, mais conhecido como Lelé, que exerceu seu reinado no Areal da Baronesa de 1948 a 1951.
No final do primeiro carnaval do Areal da Baronesa com dois Reis Momo, Lelé
foi cumprimentar Macalé, o qual retribuiu entregando-lhe o cetro que estava utilizando.
Estes gestos simbolizavam a paz entre os reinados do Momo Branco e do Momo Negro.
...Com a linda festinha de Domingo, organizada no coreto oficial, instalado
à rua Barão do Gravataí, defronte à travessa Pesqueiro, foram encerrados
com chave de ouro os folguedos do corrente ano. Na metade das
solenidades, sua Majestade o “Momo Preto”, num gesto de verdadeiro
altruísmo e compreensão veio trazer seu abraço amigo à sua Majestade o
“Imperador Branco”, que ao corresponder a saudação entregou-lhe seu
bastão de regente.
No entanto, analisando-se mais de perto, pode-se perceber pequenas sutilezas
que diferenciavam o reinado do Momo Branco e do Momo Preto no Areal da Baronesa.
O carnaval da Rua Miguel Teixeira era realizado por foliões que tinham um capital
econômico e simbólico21 mais efetivos que o carnaval realizado na Rua Barão com
Baronesa de Gravataí, onde ficava o coreto de Lelé.
Como explica Lelé, o carnaval organizado por Macalé na Rua Miguel Teixeira
contou com uma estrutura melhor desde o início, pois teve a colaboração de alguns
oficiais graduados e comerciantes, conseguindo com maior facilidade dinheiro e
patrocinadores. O carnaval da Rua Barão com a Baronesa de Gravataí, ao contrário, era um carnaval que enfrentava maiores dificuldades, contando com o apoio quase que exclusivo da comunidade.
“...Esse era o carnaval que iniciou no Areal da Baronesa, e que foi de 48,
49, até mais ou menos 51. Anexo, depois desse nosso evento, já no ano
seguinte, aí já existia dois carnaval no Areal da Baronesa. Aí tava criado
assim um problema. Aquela coisa que era o carnaval da Miguel Teixeira.
Aonde então surgia o Rei Momo, aí o Rei Momo branco no Areal da
Baronesa. Que era dois Rei Momo no mesmo bairro. Não mais um só. Que
era o Rei Momo Macalé. Que hoje é capitão reformado da Brigada, e que é
o presidente das Entidades Carnavalescas aqui de Porto Alegre e Rio
Grande do Sul. Aí era o carnaval do Areal da Baronesa, propriamente dito,
e o carnaval da Miguel Teixeira. Mas que quase ninguém, a maioria
desconhecia essa parte assim de dizer que ali no Areal da Baronesa tinha
dois carnavais. Tinha o do Areal da Baronesa que era o da Barão com a
Baronesa. E tinha o outro, que era o da Miguel Teixeira. Todo mundo
sabia que ali tinha carnaval. Quando chegava a época, todo mundo queria
ir pra lá brincar. Não pensava nessa coisa aí. E só ficava lá entre eles
porque carnaval da Miguel Teixeira eram outras cabeças, outras pessoas.
Alguém que disse assim: não, vamos aproveitar essa ocasião propícia.
Porque o Arlindo Rosa, esse que criou o Areal da Baronesa, tinha
dificuldade. Era, bem dizer, ele praticamente sozinho. E esse da Miguel
Teixeira, já não. Esse tinha o Dorival Leivas, o sargento Teixeira, o
Vitório que era dono de um bar. Então eles já fizeram assim, pode-se dizer,
em comparação com o nosso, 100%. Com suas rainhas, faziam concurso e
tudo. Passaram aí no comércio, coletando grana, conseguiram
patrocinador e fizeram um carnaval bacana mesmo, estilo
Mas o nosso evento foi criado primeiro no Areal da Baronesa, na poeira. A
Miguel Teixeira era calçadinha e tudo. Mas o nosso não...“
Macalé, o Rei Momo Branco do Areal da Baronesa, também se refere ao
carnaval da Barão com a Baronesa como uma festa mais precária do que o da Rua
Miguel Teixeira e mais identificada ao Rei Momo Negro Lelé, enquanto associa o
surgimento do carnaval da Miguel Teixeira ao apoio de políticos:
“...na Baronesa tinha um carnaval importante, muito importante: era o
Rei Momo preto. Ali não tinha Rei Momo branco esse lugar vai ser
muito difícil para ser substituído. Então a gente começou, e antes a Miguel
Teixeira era uma quadrinha de 100 metros como isso aqui. E ali morava
uma meia dúzia de moradores e a gente começou a se unir, aqueles
elementos, eram quase todos eram gremistas. E aí então nós começamos o
Rei Momo preto na Baronesa, então fomos fazer o carnaval na Miguel
Teixeira. Com a influência de alguns políticos da época .Tinha uma
meia dúzia de moradores, tudo irmãos e molecão, montamo .Eu recebi
na Rua Miguel Teixeira numa noite 47 grupos .A Baronesa não era nem
calçada, era areão. Pessoal assistia o carnaval, podia chegar e tomar um
banho para deitar, porque a cabeça tava de areia que era uma coisa de
louco, de poeira.”
Este depoimento de Macalé novamente remete à influência do Riachinho no
cotidiano dos moradores da Cidade Baixa. O carnaval do Areal da Baronesa, inclusive,era popularmente conhecido como o “carnaval na areia”. Segundo alguns
depoimentos, as rodas de samba do Areal levantavam muita poeira e, à medida que a
batucada e as danças iam “esquentando”, as pessoas ficavam com as roupas e os
cabelos empoeirados, pois as ruas eram de chão batido. O carnaval na areia era
freqüentado pelos melhores grupos carnavalescos da cidade, os quais eram compostospor descendentes de africanos.
O Carnaval na “Areia”
O carnaval do corrente ano na Rua Barão de Gravataí foi um dos mais
animados da Cidade. No Coreto Oficial, instalado a Rua Barão de Gravataí,
defronte à Travessa Pesqueiro, atuou quase permanentemente uma animada
banda de música que animou os folguedos. Terça-feira última, em
obediência ao programa oficial a Comissão Julgadora efetivou o concurso
geral. Dentre os 27 cordões, grupos, etc. foram classificados os seguintes,
que estão convidados para receberem os prêmios a que fizeram jus, a partir
das 19 horas de Domingo próximo:
Em conjunto:
1. Lugar –“Democratas”;
2. Lugar – “Aspirantes do Samba”;
3. Lugar –“Granadeiros da Alegria”.
Em solista:
1. Lugar – “Mensageiros do Samba”;
2. Lugar – “Garotos da Boemia”;
3. Lugar - “Democratas”.
Em brilhantismo:
1. Lugar – “Nós os Comandos”;
2. Lugar – “Marmoeiros”;
3.Lugar – “Piratas da Margem”.
Em sambistas (Baianinhas):
1. Lugar –“Aspirantes do Samba”;
2. Lugar – “Granadeiros da Alegria”;
3. Lugar –“Cabo Laurindo”
Lelé, os moradores da Rua Miguel Teixeira não saíam de seu território,
faziam um carnaval bem localizado, diferente dos carnavalescos do restante do Areal,
que circulavam o tempo todo com seus blocos e cordões pelas diversas ruas da Cidade
Baixa.
“...Era tudo uma coisa só [o carnaval de Lelé e Macalé]. O pessoal não
sabia. Só que o pessoal da Miguel Teixeira não saía. Os moradores mesmo
dali, ficavam ali, aquela beleza, aquela maravilha. Nem precisavam sair de
casa. E o outro pessoal, da Baronesa, não. Eles tinham a Barão. Eles
vinham fora a fora pela Barão e entravam pela Baronesa. Ali tinha mais de
oito ou dez bares, inclusive o Macalé tinha barzinho ali, tudo [...] e isso não
deixava de existir. Essas coisinhas, essas briguinhas, como existe até hoje
nas grandes vilas. Mas tudo isso até se tornava em festa no Areal da
Baronesa. Muitas avenida, tinha mais ou menos umas nove ou dez
avenidas25 ali, não é? Tudo morava ali. Então a gente até sentia falta, até
parecia que era carnaval, parecia que o dia que não tinha uma
briguinha..”
O bar de Macalé, localizado na Rua Baronesa do Gravataí, reunia inúmeros
componentes dos blocos e cordões carnavalescos e estava inteiramente integrado ao
Areal, enquanto zona de quartéis e território negro. Como lembra o próprio Macalé,
“...eu tinha um bar ali, tudo oficiada, oficiada e negrada...”, referindo-se à clientela de
seu bar, composta por um grande número de oficiais e negros.
A partir de 1950, Vicente Rao, como Rei Momo oficial da cidade, também
passou a percorrer de caíque o trajeto do Riachinho, indo desde a Ponte de Pedra até a
ponte do Menino Deus, ao lado da Ilhota, dando início ao carnaval da cidade naquele
território.“
E tinha também por parte do Vicente Rao, a chegada do Rei Momo.
E naquele tempo era diferente do Rei Momo atual. Ele tinha o seu
secretariado. Tinha um cidadão lá com um fraque e um livro bem grande. E
mais uma meia dúzia de pessoas. Então tinha um coreto, já oficial, ali da
João Alfredo que até então o Rao fazia, às vezes, uma chegada pelo Riacho
que não existe mais, que tinha a tal famosa Ponte de Pedra. Então o
Rao chegava ali naquela Ponte de Pedra. Dali então se deslocava uma meia
quadra mais, dentro da João Alfredo mesmo, aonde encontrava seu coreto,
com os clarins já anunciando a chegada de Momo, aquela coisa...”
Algumas vezes, Vicente Rao fazia esse trajeto ao contrário. Embarcava na
Ilhota, em frente à Praça Garibaldi, e ia descendo o Riachinho, margeando o Areal até
alcançar a Ponte de Pedra. Essas trajetórias pelo Riacho e as descidas nas ruas do Areal e da Ilhota também faziam parte do percurso do Rei Momo Negro Lelé e eram
acompanhadas por inúmeros foliões, blocos e cordões carnavalescos.
“...O qual na minha época de Rei Momo, as quatro vezes eu vim pela Praia
de Belas, eu chegava ali na Ponte de Pedra. Ali me aguardavam. Então eu
pegava a João Alfredo, fora a fora, entrava ali na Av. Getúlio Vargas,
esquina com a Barão do Gravataí, e entrava na Barão do Gravataí. Pra
depois ir para o meu coreto lá com a esquina da Baronesa do Gravataí...” 28
Macalé, Rei Momo Branco do Areal da Baronesa, fazia este mesmo itinerário
percorrido por Lelé e Rao. Embarcava em um caíque nas águas do Guaíba, entrava no
Riachinho, passava por debaixo da Ponte de Pedra, seguia em direção ao Areal e à
Ilhota e, ao desembarcar, percorria algumas ruas até chegar ao seu coreto, montado na
Rua Miguel Teixeira:
“...ali na Praia de Belas, ali tinha um velho, que tinha um depósito de
melancias e tinha um barco, então pegava o barco ali, fazia a volta, passava
por debaixo da ponte dos açorianos e ali defronte .Eu pegava ali na
esquina da Praia de Belas, bem defronte onde hoje tem a Churrascaria
Garcia. Isso mesmo, ali eu pegava. Tudo ali era água, o IPE ali, não tinha
nada disso. Então nós fazia a volta, passávamos também debaixo da ponte.
só tinha um riachinho que passava por debaixo da ponte dos açorianos.
Daquele canto ali, eu pegava os que descia e a negrada tava me esperando
tudo ali, tudo em forma. Ali iam 10, 12, 15 grupos carnavalescos e vinham
embora. Entrando a João Alfredo abaixo fazendo zueira até...vínhamos até a
esquina da Getúlio Vargas com a Barão de Gravataí, ali eu dobrava à
direita, pegava toda a Barão, fazia toda a Barão até esquina com a
Baronesa, dobrava, ia até a igreja do Pão dos Pobres e dali voltava. Mas
aquilo era um delírio. Vê que as escolas eram tão grandes que nós fazia um
coreto de 15m, 16, 20...”
Um dos pontos onde havia maior circulação de foliões no carnaval de rua da
Cidade Baixa era na Rua João Alfredo, na época denominada Rua da Margem por
margear o Riachinho que foi aterrado nos anos 50. Nesta rua, filas intermináveis de
automóveis oriundos de diferentes pontos da cidade desfilavam em corso, e inúmeras pessoas comprimiam-se nas calçadas para assistir aos desfiles de carros e fantasiados.
O Carnaval na Rua da Margem
Foi simplesmente um sucesso o carnaval da rua da Margem. Logo ao
primeiro dia a crítica o cognominava de “O melhor trecho”. Muito
concorreu para o brilhantismo dos festejos o aparelho de rádio, colocado à
frente da residência do esforçado presidente da S. C. Piratas do Riacho.
Esta sociedade muito trabalhou, tendo visto seus esforços coroados de pleno
êxito. O corso que esteve muito movimentado terminou pela madrugada,
com pesar dos foliões, pois realmente estavam entusiasmados. Os louros da
vitória são ostentados com muito orgulho pela comissão de festejos da S. C.
Piratas do Riacho ...
Outras ruas também marcaram o carnaval do Areal da Baronesa e da Ilhota,
tanto por serem parte dos itinerários dos desfiles dos blocos, tribos e cordões, como por ali estarem localizadas inúmeras cavernas, que podiam ser no quintal de alguém, nos bancos da Praça Garibaldi, numa casa alugada ou cujo proprietário fosse componente ou simpatizante do grupo. A Rua Barão de Gravataí, Baronesa de Gravataí, Miguel Teixeira, Travessa Pesqueiro, Cel. André Bello, Lobo da Costa, Sebastião Leão,Venezianos, Lopo Gonçalves, Luiz Afonso, República, Lima e Silva, José do Patrocínio, Venâncio Aires e Praça Garibaldi foram os principais pontos de cavernas e de circulação de foliões no carnaval do Areal da Baronesa e da Ilhota.
Existiam inúmeros coretos montados no interior da Cidade Baixa, e a distância
que os separava chegava a ser inferior a 100 metros, como no caso dos coretos de Lelé e Macalé, que ficavam muito próximos um do outro. A Rua Barão de Gravataí, por exemplo, possuía mais de um coreto, como o da Travessa Pesqueiro e o da Baronesa de Gravataí.
A relação entre a Brigada Militar e os carnavalescos negros do Areal e da
Ilhota é constantemente referida em diversos depoimentos de carnavalescos que
viveram o carnaval dos anos 30 e 40 nesses territórios. A Banda da Brigada, inclusive, animava o carnaval dos coretos montados no Areal da Baronesa. As circularidades eram inúmeras e iam desde os músicos aos instrumentos musicais que, inclusive, influenciaram a própria musicalidade dos blocos e cordões carnavalescos populares que se originaram nesses territórios. Pois, esses agrupamentos carnavalescos, muitas vezes, eram dirigidos e compostos por músicos e instrumentos da Banda da Brigada.
“...Ainda me lembro, por exemplo, Os Tesouras, Prediletos, Turunas, Rei da
Pândega, Ideal, Chora na Esquina, Não Te Metas, Os Tigres, Borboletas,
Deixa Mágoa, etc. E o concurso foi vencido até pelo Pois Olha. Não sei se
eu já tinha falado, que foi o campeão. Porque o favorito era Os Tesouras
vinha ganhando sempre, sempre. Mas com surpresa naquele ano, foi
por volta de 1931, estavam concorrendo e a Comissão Julgadora achou por
bem de dar o concurso para o Pois Olha porque, em determinado momento,
até então quando Os Tesouras executaram sua marcha carnavalesca
houve um breque a mais. Causador disso foi os tais de prato. Daqueles
que usam muito na Banda da Brigada. E aquilo foi muito notado. E depois,
em seguida, entrou o Pois Olha, mais modesto, mas porém fez tudo certinho.
Então saiu campeão de 1931...”
O desembarque do Rei Momo Lelé no Areal da Baronesa era anunciado por
clarim, instrumento característico de bandas militares, demonstrando esta circularidade de músicos e instrumentos existente entre os agrupamentos carnavalescos populares, compostos por descendentes de africanos, e as bandas militares.
“...E aí já começou os clarins a tocar. Conseguiram duas pessoas aí do
Regimento Osório, clarins, né? Eles tocando alto e bem forte...”
O próprio surgimento do carnaval da Rua Miguel Teixeira, um dos mais
populares do Areal da Baronesa, onde Macalé, ex-capitão da Brigada Militar, era Rei
Momo, foi anunciado por material impresso na gráfica da Brigada, o que lhe conferiu
desde o começo um ar de distinção e de requinte, se comparado ao carnaval da Rua
Barão com Baronesa de Gravataí, de estrutura mais precária, organizado por pessoas com menor capital, material e simbólico, em relação aos poderes instituídos. Pois, como demonstrei no capítulo anterior, havia um grande esforço por parte desses agrupamentos carnavalescos compostos por descendentes de africanos de serem vistos como disciplinados, organizados, sem bêbados ou elementos perturbadores da ordem.
Neste contexto, ter acesso a uma gráfica, ainda por cima da Brigada Militar, e
poder imprimir comunicações avisando o surgimento do carnaval da Miguel Teixeira
em papel timbrado, distingue desde o início este carnaval dos demais existentes no
interior do território do Areal da Baronesa. Além do mais, o carnaval da Miguel
Teixeira contou com o apoio de políticos e oficiais graduados da Brigada Militar. Isto
refletiu-se no próprio apoio material recebido pelo carnaval da Rua Miguel Teixeira que entre seus colaboradores teve, além da própria comunidade, empresas como Caldas Júnior, à qual pertencia o Correio do Povo, Brahma, produtora de cerveja e refrigerantes e Cia. Química Rhodia Brasileira, que produzia lança-perfumes. Como explica Macalé:
“...Como a minha profissão é gráfico, me facilitou o trabalho. Eu fui lá na
tipografia da Brigada, eu trabalhava ali e imprimi umas comunicações,
levando ao conhecimento que a partir daquela data tinha um novo carnaval
de bairro que era na Miguel Teixeira, aquela conversa fiada toda. Sabe
como é que é? Que aguardava colaboração. Imprimimos envelopes
todo timbrado, bonitinho, bem feitinho.Bom, aquilo ali frutificou
aquela minha idéia, carnaval novo, ia crescer e o pessoal a vim. Aí fizemos
um concurso de rainha, arrumamos as gurias da época ou senhoras casada.
O primeiro carnaval, o primeiro concurso, arrumamos oito. Sabe quanto é
que custava o voto? 500 réis. Arrumamos 40.000, 40 pau, 40 cruzeiros.
Então foi uma coisa de louco. Quem colaborava muito conosco era o
Correio do Povo, dava a taça do primeiro lugar a Companhia Química
brasileiro que fazia o famoso lança-perfume a Brahma..que a zona
era muito pobre, a gente sábado de tarde nós saíamos, naquelas vilas,
então o que a gente fazia? Ia pedir dinheiro pra eles, então saía 500 réis
num, 200 réis noutra, um pila noutro, os butecos, então tinha uns três,
quatro bar ali, que tinha um monte, movimentados, uma coisa de louco...”
fonte :Iris Graciela Germano
RIO GRANDE DO SUL, BRASIL E ETIÓPIA:
os negros e o carnaval de Porto Alegre
nas décadas de 1930 e 40.
Dissertação apresentada como
requisito parcial à obtenção do grau de
Mestre em História, Programa de Pós-
Graduação em História, Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
fonte :Iris Graciela Germano
RIO GRANDE DO SUL, BRASIL E ETIÓPIA:
os negros e o carnaval de Porto Alegre
nas décadas de 1930 e 40.
Dissertação apresentada como
requisito parcial à obtenção do grau de
Mestre em História, Programa de Pós-
Graduação em História, Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Muito boa a explanação sobre os carnavais antigos. Nasci em 1948 e morava na Miguel Teixeira, esquina com a Baronesa do Gravatai, berço do carnaval portoalegrense. Assistia ao carnaval, sentado na janela de minha casa.
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