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domingo, 14 de junho de 2015

'' Lelé, o 1.º Rei Momo Negro da Cidade'' por ''FABIO VERÇOZA''

                            Por :Fabio Verçoza
Lelé com o rei momo Fábio Verçoza - Foto: André Gomes
Adão Alves de Oliveira, o Lelé, primeiro Rei Momo negro da cidade,
ainda menino, na década de 30, conheceu o Carnaval de Porto Alegre, que  era realizado em cinemas – como o antigo Capitólio, onde se apresentavam os blocos carnavalescos. Em 1931 assistiu a um concurso do qual participavam, entre tantos outros, Passa Fome, Tesouras ,Tigre, Tesourada, Borboleta e Chora na Esquina. Ficou encantado! 
Ganhou notoriedade no Carnaval nos anos 40 e 50, quando era forte a folia no Areal da Baronesa, área pertencente ao Bairro Cidade Baixa. 
Seus amigos diziam que tinha um chute igual ao do atacante Lelé, do Madureira, time do Rio. Por isso passaram a chamar deste nome.
Crédito: Andreia Graiz (ClicRBS)




Seu reinado começou em uma brincadeira ,seria na década de 40 que seu Lelé entraria definitivamente para a história do Carnaval. Em uma tarde monótona de fevereiro de 1949, enquanto conversava com amigos numa esquina do Areal da Baronesa teria comentado a intenção de criar um personagem, que deveria ser alguém muito simpático e que conquistasse a todos, principalmente os comerciantes, visto que a intenção, também, era de beber de graça. 



À noite, com uma fantasia improvisada e uma coroa de papelão e um pano branco amarrado pelo corpo , sobre um andor carregado por quatro amigos, Lelé percorreu o comércio da região, dizendo-se rei da Etiópia. A partir da brincadeira, foi oficializado Rei Momo do coreto da região. Até então, a cidade só havia tido reis momos brancos
Consagrado soberano, Lelé teve uma chegada apoteótica no bairro: ele e sua corte (com apoio financeiro dos moradores) pegaram um barco na Avenida Praia de Belas, passaram pela Travessa Pesqueiro e desceram, sob o rufar dos tambores, na Ponte de Pedras. Dalí seguiram para o coreto montado entre as ruas Barão do Gravataí e Baronesa do Gravataí. “E a festa pegou com a batucada do Nós Os Democratas, Grupo do Marquinhos, X do Problema, Clarim, entre outros”, lembrou. Seu Lelé dividiu o reinado do bairro até 1952 com outro Rei que, também, marcou o Carnaval do Areal da Baronesa, o branco Alfredo Raimundo Macalé que dominava o reduto da Rua Miguel Teixeira. 

Seu Lelé tocando o gongo, desfile de 1977 (reprodução Porto História PH/ Negro em preto e branco: história fotográfica da população negra de Porto Alegre)

Recebeu o título de Rei Momo do Carnaval do Areal e em seguida foi eleito oficialmente em Porto Alegre, sendo o primeiro Rei Momo negro da história carnavalesca da capital.
Lelé, morreu no dia 17 de julho de 2013, aos 88 anos, vítima de falência múltipla dos órgãos.

                                    
                            Lelé em seu apartamento em 2011 - Foto: Daniela Amaral

Uma curiosidade é que, em 2010, sua neta Cássia Katherine, foi eleita 2.ª Princesa do Carnaval da Capital gaúcha, representando a Tribo Os Guaianazes. 
Além de carnavalesco apaixonado e apaixonante, Lelé foi ainda jogador de futebol no Nacional e no Força e Luz, Flamengo de Caxias - atual SER Caxias, trabalhou em diferentes bancos e também na antiga Livraria do Globo.

Ele tinha o porte e a atitude de um rei que a gente sonha que algum dia existiu na nossa Terra Mãe Africa. A fala calma, no olhar o brilho da juventude eterna. Bom contador de histórias, não havia quem não ficasse envolvido por suas narrativas de outros carnavais. 
No dia do casamento com Dona Eni
 a companheira de toda vida
A coroa de papelão, pintada de dourado ficou para sempre impressa na memória coletiva do povo do Areal da Baronesa. 
Lelé com seu porte altivo e seu olhar de menino representou uma vitória do carnaval de rua,realmente protagonizado pelos negros no século passado. 
O registro oficial de sua idade marca 88 anos, mas acredita-se que tenha sido registrado já com alguns anos.
Agora, tal como desse Carnaval autêntico que acontecia por aqui, espaço de afirmação e preservação de nossa Cultura, ficou a imensa saudade do Seu Adão, nosso eterno Rei Lelé.



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