Foto e relato: Ulisses da Motta Costa
Essa é para quem tem medo de imigrantes e refugiados:
Aconteceu por volta das 17:30, no Trensurb, altura da estação Rio dos Sinos, em São Leopoldo. Uma senhora já de certa idade passou mal e caiu no piso do vagão.
Alguém acionou o alarme, o trem parou, o condutor veio ver o que aconteceu e seguiu para a estação seguinte, onde ela seria atendida.
Aconteceu por volta das 17:30, no Trensurb, altura da estação Rio dos Sinos, em São Leopoldo. Uma senhora já de certa idade passou mal e caiu no piso do vagão.
Alguém acionou o alarme, o trem parou, o condutor veio ver o que aconteceu e seguiu para a estação seguinte, onde ela seria atendida.
Eu estava a poucos metros, mas não pude acompanhar muito bem o que acontecia. Sei que ela permanecia deitada, até finalmente ser erguida e acomodada num dos bancos.
Só daí notei que ela recebia cuidados de um homem, certamente imigrante (alguém se referiu a ele como "haitiano"). Na verdade, era senegalês.
O seu nome é Moussa. Ele era enfermeiro no Senegal. Estava próximo e pôde dar à senhora o primeiro atendimento. Com as mãos, media a pressão e os batimentos cardíacos da mulher.
Pediu água para que ela bebesse, no que foi atendido por um rapaz com um restinho de água mineral numa garrafa.
Quando paramos na estação Santo Afonso, um funcionário do trem veio com uma cadeira de rodas. Moussa ergueu-a no colo, com muito cuidado, e a pôs na cadeira. Ela e o marido saíram do trem, e torço para que tenham recebido o devido atendimento a partir daí.
Pediu água para que ela bebesse, no que foi atendido por um rapaz com um restinho de água mineral numa garrafa.
Quando paramos na estação Santo Afonso, um funcionário do trem veio com uma cadeira de rodas. Moussa ergueu-a no colo, com muito cuidado, e a pôs na cadeira. Ela e o marido saíram do trem, e torço para que tenham recebido o devido atendimento a partir daí.
Por que eu sei que o rapaz se chama Moussa, que é do Senegal e é enfermeiro? Porque depois que a senhora foi levada, eu conversei com ele.
Ele foi enfermeiro durante 15 anos na sua terra natal. Mora há um ano e meio no Brasil, trabalhando numa fábrica de refrigerante.
Moussa me contou que a senhora teve uma crise pressão alta muito violenta. Ele a manteve deitada no chão numa posição que aliviava a pressão das artérias, até ela melhorar. Ele achava que, se ela não tivesse recebido atendimento rápido, poderia morrer em dez minutos.
Está procurando por emprego na área de enfermagem. Perguntei se o seu diploma era válido no Brasil. Ele me disse que sim. Duas amigas que estavam com ele, brasileiras, confirmaram que ele gostaria de voltar a atender como enfermeiro.
Me deu o telefone, se eu souber de algo. Se alguém da área da saúde souber de alguma vaga para enfermeiro, por favor, me avise.
Me deu o telefone, se eu souber de algo. Se alguém da área da saúde souber de alguma vaga para enfermeiro, por favor, me avise.
O que eu fiz? Eu fiz o que eu poderia fazer (vivo dizendo: como filho que sou de imigrantes, de escravos e de índios): disse para ele: "que bom que tu estava aqui" (e por "aqui" entenda: neste vagão, neste trem, nesta cidade, neste país). E disse: "seja muito bem-vindo".
Enquanto alguns chamam os imigrantes de escória, um imigrante acaba de salvar uma vida aqui no Trensurb.
Enquanto alguns acham que eles "trazem doença" (sim, já li isso), que são terroristas, que são treinados para a guerra; um deles fez mais pela humanidade em cinco minutos do que este tipo de crápula fará sua vida inteira.
Não tenho dúvida nenhuma de que lado eu estou. Vocês, de que lado estão?
Bem-vindo, Moussa. Que bom que
tu está aqui.
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