Por : Manoel Soares
Quando o mês de novembro começa a chegar eu começo a receber convites para falar sobre a vida dos negros. Logo eu que sou quase branco. Não que eu me sinta assim, mas por ser o cara da TV não me tratam mais como os iguais a mim. Sei que isso talvez deveria me deixar feliz, já que os iguais a mim são mal tratados. Mas não posso me deixar enganar por esse holograma social, a vida continua sinistra para quem nasceu na escuridão. Eu sou escuro e nasci na escuridão mais bonita que alguém poderia nascer. Uma mãe preta que me ama e irmãos me ensinam as lições que não posso esquecer. Mas a realidade negra ainda é pedir um mini cafezinho no centro da cidade depois de quatro entrevistas de emprego em que disseram que eles não estavam no perfil. Juro que gostaria que gostaria que alguém me explicasse o que é esse perfil, seja lá o que for é diferente de mim. Em uma palestra em uma escola publica vi que na primeira série tinha um monte de pretinhos e nas séries finais tinham poucos. Onde foram parar os negros que deveriam estar se formando? Estou cansado de ouvir que somos todos iguais, quando na realidade uns parecem ser mais iguais que os outros. Enquanto muitos privilegiados revolucionários conhecem Karl Marx, nós conhecemos a fome que Marx fala. Aplaudo os irmãos que a rotina é tomar um gole de café com pão as 7 da manhã e só voltar a comer as 3 da tarde e ainda assim fazerem cara de felizes para os patrões. O pior é quando um de nós consegue sair da jaula da miséria vira argumento para preconceituoso dizer que quem quer consegue. Sejamos negros até a vitória e a vitória será negra, senão quando vencermos nossa vitória não terá cor.
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