Por: Pedro Linhares
Inicio hoje uma série de entrevistas com os temistas das agremiações do grupo especial de Porto Alegre para o próximo carnaval ( isto irá acontecer de acordo com a divulgação dos temas), seguindo a ideia da coluna de valorizar o trabalho destes profissionais.
Uma das primeiras escolas a divulgar seu tema para 2016 foi a Império da Zona Norte: “Man Sé Korea... Man Sé Império” de Diego Araújo desfilará na passarela. Morando no Rio de Janeiro, estudante de Museologia, Diego tem passagens por escolas como GRES Unidos do Bangu, GRES Bambas do Ritmo e GRESE Império da Tijuca. Confira agora a entrevista realizada com ele.
Arquivo Pessoal
Tamujunto: Primeiramente, saiba que é um prazer receber você na abertura desta
série que espera contar com todos os pesquisadores/temistas/enredistas para o
próximo espetáculo de Porto Alegre. A missão aqui é valorizar o trabalho destes
profissionais que muitas vezes ficam apenas nos bastidores.
Diego Araújo: Eu é que agradeço a oportunidade de poder
falar um pouco do meu trabalho, e fico feliz em saber que haverá espaço para
que os amigos de trabalho possam falar mais sobre suas experiências
particulares. A função de pesquisador/temista/enredista ainda é muito
desvalorizada no mercado de carnaval, mesmo provando que a divisão de funções
proporciona trabalhos melhores e mais completos nas parcerias realizadas entre
carnavalescos e pesquisadores.
TMJ: Sobre seus trabalhos, algum tem algum fato
marcante, inusitado, pitoresco?
D.A.: Acho que nesses 06 anos de trabalho todos
tiveram suas passagens marcantes, inusitadas e pitorescas. Porém, acho que três
são inesquecíveis: O desfile do meu primeiro enredo, em 2011 no G.R.E.S. Bom
das Bocas, escola de samba da cidade de Três Rios/RJ, e os dois anos em que
trabalhei no Império da Tijuca, conquistando o título da Série A em 2013 com
“Negra, Pérola Mulher” e “Batuk” que marcou a volta da escola ao Grupo Especial
depois de 18 anos afastada, acho que foram os mais marcantes pela carga
emocional envolvida.
TMJ: Pode nos contar um pouco mais sobre a sua
aproximação com o carnaval do RS?
D.A.: Sempre fui um apaixonado por Carnaval,
acompanho o Carnaval de Porto Alegre e de algumas cidades do estado por
interesse próprio ou por ter sido apresentado por algum amigo. Nunca fui de
realizar julgamento se o Carnaval é bom ou ruim pela plástica dos desfiles,
sempre fui um observador mais técnico das ideias colocadas em prática, das
propostas de enredo e dos sambas apresentados pelas escolas pra tirar alguma
conclusão. Sempre acreditei que o Carnaval tem que ser entendido em partes, e
também suas particularidades regionais.
TMJ: sua percepção em relação ao modo de
desenvolvimento da folia gaúcha mudou se comparada ao que imaginava antes do
contato direto?
D.A.:O meu primeiro contato com o Carnaval do Rio
Grande do Sul foi em 2012 quando recebi o convite do amigo Gustavo Barros para
desenvolver o enredo da Imperatriz Leopoldense para o Carnaval 2013 em Porto
Alegre. Foi uma experiência bem bacana e me fez entender o estilo do Carnaval
da capital que tem algumas particularidades como pensar em roteiro de desfile
com a presença de elementos que não são típicos do Carnaval da região Sudeste
como Porta Estandarte e Casal de Passista.
TMJ: O que representa o trabalho de pesquisa e
desenvolvimento do enredo no cenário nacional do carnaval? Ele se aplica ao RS?
D.A.: O trabalho de um pesquisador é o pontapé inicial na criação do projeto
de Carnaval de uma escola de samba, afinal, a partir do enredo é que se
direcionam todos os trabalhos. Particularmente em meus trabalhos sempre busco
formar uma parceria com o carnavalesco, acho que a unidade de pensamentos faz
com que o resultado do trabalho seja o melhor possível entre o foi pensado e
pesquisado e o que será desenhado e executado. Isso vale pra qualquer lugar.
Arquivo Pessoal
TMJ: Para o próximo ano, o Império da ZN escolhe um
tema que é criticado por muitos - o chamado enredo CEP. Como você vê esta
corrente dos pesquisadores/carnavalescos?
D.A.: Não faço pré-julgamento de enredos por conta
da “classificação” feita por nós sambistas, sempre gosto de acreditar no
potencial do tema, mesmo que ele cause algum espanto em primeiro momento. No
caso do Império da Zona Norte, quando recebi o convite do Gustavo Barros para
desenvolver a pesquisa e a criação do enredo o tema já estava fechado pela
escola, mas como eu gosto de bons desafios e sempre gosto de aprender com os
meus trabalhos, foi mais um desafio interessante e prazeroso de realizar.
TMJ: Qual o seu contato com a escola no
desenvolvimento do desfile? Houve alguma alteração da sinopse por algum motivo
solicitado pela agremiação?
D.A.: O meu contato a princípio foi com o Diretor de
Carnaval da escola, Gustavo Barros, através de umas duas conversas chegamos ao
denominador comum sobre os caminhos que o enredo teria que ter. Como essa
parceria com o Gustavo já se repete faz alguns anos, a gente já se entende de
forma clara e rápida, o que facilita muito o trabalho em ambas as partes sem
ter que haver nenhuma alteração no que foi planejado inicialmente. O único
pedido feito pela escola foi pra um acréscimo no título do enredo que até me
ajudou a fechar ainda melhor o contexto geral do enredo, fiquei muito
satisfeito.
TMJ: A concepção da sinopse foi compartilhada ou
partiu de alguém em específico?
D.A.: O tema partiu da escola, já eu assino toda a
criação textual do enredo do Império da Zona Norte, do título do enredo até a
defesa do projeto que será entregue para a avaliação dos jurados.
TMJ: Teremos sua presença em Porto Alegre no
período pré-carnaval?
D.A.: Ainda não há nada certo, como eu curso
Museologia pela UNIRIO e ainda tenho compromisso com outras escolas fica um
tanto difícil estar presente em todos os lugares, porém, eu acompanho o
desenrolar de todos os meus trabalhos por telefone e pelas redes sociais, sou
um pai coruja dos meus filhotes.
TMJ: Por fim, pode nos revelar alguma possível surpresa
para o desfile dos Leões alados da ZN?
D.A.: Surpresas só mesmo no dia do desfile, o que
posso adiantar é que o Império da Zona Norte está preparando um Carnaval à
altura de sua história e da sua comunidade fantástica. O enredo segue a
vertente que eu mais gosto, a cultural. “Man
Sé Korea... Man Sé Império” é uma grande celebração da cultura Sul-Coreana,
tentando ao máximo sair do caminho comum do desenvolvimento de um enredo que
exalta algum lugar. No geral, acredito que o Império da Zona Norte propõe um
excelente carnaval e o saldo já é extremamente positivo, e tenho certeza que
será até o desfile.
Este espaço é nosso, temista! Caso tenha alguma sugestão, entre em contato comigo. Se você está na preparação do próximo carnaval ou tem alguma história para dividir conosco, fique à vontade. Um forte abraço e até a próxima!
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