ESTREIA! Enredos: histórias e estórias de Carnaval

Por: Pedro Linhares

Em minha estreia na coluna, resolvi pincelar ideias do que vem pela frente: um ensaio de exaltação a todos nós temistas, enredistas, pesquisadores, carnavalescos que buscamos (parafraseando grande mestre Fernando Pamplona) tirar da cabeça o que não temos no bolso. Humildemente e com muito carinho, as letras vêm chegando. Com vocês...

Enredar para não acabar se enredando

Muito se compara o maior espetáculo audiovisual brasileiro com outras artes. Já chamava de grande Ópera Popular, o gênio Joãosinho Trinta, nosso carnaval. Inúmeras semelhanças, a começar pela própria palavra Ópera, do latim opus "obra  , trabalho (musical)": a ópera possui uma orquestra, a escola de samba a bateria, a ópera possui bailarinos, a escola de samba os passistas, a ópera possui cantores, a escola a harmonia musical, na ópera temos o libreto, o roteiro e na escola de samba temos o ENREDO.

                                                                                  Foto: Divulgação filme Trinta

O enredo, como raiz embrionária do processo criativo para o desfile de uma agremiação é a sucessão narrativa dos elementos cenográficos, coreografados, musicais e teatrais que ocorrerão na passarela do samba. A sinopse é a nascente das invenções carnavalizadas a serem apresentadas. Como etapa gestacional (assim a chamo pois necessita de intervenções externas de todos envolvidos direta e indiretamente no desfile), exige pesquisa, estudo, conhecimento para que não hajam ruídos nem deslizes que culminem observações na avaliação final dos julgadores. 

Salienta-se a esta concepção a importância da clara leitura e interpretação do texto, que deverá ser midiatizado para os conceitos carnavalescos sem perder o teor, ou seja, não se considera um enredo excelente ao analisarmos apenas o texto escrito, organizado pelo temista/enredista, o objetivo é um real entrosamento dos agentes ativos da organização do desfile: carnavalescos, alegoristas, figurinistas, compositores, coordenadores e seus parceiros e/ou subordinados.

A grande barreira da criatividade parece estar construída na folia atual: o patrocínio. Todo esse jogo lúdico relatado acima só é viável quando considerado como tal: prioritário, necessário e essencial. Prioritário pois compreende a necessidade atual de unir emoção e relevância dos temas abordados.  Necessário devido a ser o eixo estrutural da apresentação, estabelecendo ligações e sentidos em todos quesitos avaliados. Essencial porque carrega em sua essência o poder de transformar, de carnavalizar, transgredir, se libertar... Que traduz a perfeita ideia de uma escola de samba.

Em tempo: leituras básicas e obrigatórias para você, interessado no assunto:

• "O enredo de escola de samba", do professor Julio Cesar Farias;

• "Pra Tudo Começar na Quinta-feira", dos escritores Fábio Fabato e Luiz Antonio Simas.

“Carnaval é o único momento de realidade. Vá você fazer o carnaval de uma escola de samba no morro e pedir pro crioulo sair de escravo, ele te manda a...  Porque escravo ele já é o tempo todo. Ele gosta é do luxo, ele quer ser  príncipe e princesa, que na verdade, ele é e foi e tem direito  de continuar a ser"    João Jorge Trinta