Por :Fabio Verçoza
Crédito: Andreia Graiz (ClicRBS) |
Seu reinado começou em uma
brincadeira ,seria na década de 40 que seu Lelé entraria definitivamente para a história do Carnaval. Em uma tarde monótona de fevereiro de 1949, enquanto conversava com amigos numa esquina do Areal da Baronesa teria comentado a intenção de criar um personagem, que deveria ser alguém muito simpático e que conquistasse a todos, principalmente os comerciantes, visto que a intenção, também, era de beber de graça.
À
noite, com uma fantasia improvisada e uma coroa de papelão e um pano branco amarrado pelo corpo , sobre um andor
carregado por quatro amigos, Lelé percorreu o comércio da região, dizendo-se
rei da Etiópia. A partir da brincadeira, foi oficializado Rei Momo do coreto da
região. Até então, a cidade só havia tido reis momos brancos
Consagrado soberano, Lelé teve uma chegada apoteótica no
bairro: ele e sua corte (com apoio financeiro dos moradores)
pegaram um barco na Avenida Praia de Belas, passaram pela
Travessa Pesqueiro e desceram, sob o rufar dos tambores, na
Ponte de Pedras. Dalí seguiram para o coreto montado entre as
ruas Barão do Gravataí e Baronesa do Gravataí. “E a festa pegou
com a batucada do Nós Os Democratas, Grupo do Marquinhos,
X do Problema, Clarim, entre outros”, lembrou.
Seu Lelé dividiu o reinado do bairro até 1952 com outro Rei
que, também, marcou o Carnaval do Areal da Baronesa, o branco
Alfredo Raimundo Macalé que dominava o reduto da Rua Miguel
Teixeira.
Seu Lelé tocando o gongo, desfile de 1977 (reprodução Porto História PH/ Negro em preto e branco: história fotográfica da população negra de Porto Alegre) |
Recebeu o título de Rei Momo do Carnaval do Areal e em seguida foi eleito oficialmente em Porto Alegre, sendo o primeiro Rei Momo negro da história carnavalesca da capital.
Lelé,
morreu no dia 17 de julho de 2013, aos 88 anos, vítima de falência múltipla dos
órgãos.
Lelé em seu apartamento em 2011 - Foto: Daniela
Amaral
|
Uma
curiosidade é que, em 2010, sua neta Cássia Katherine, foi eleita 2.ª Princesa
do Carnaval da Capital gaúcha, representando a Tribo Os Guaianazes.
Além
de carnavalesco apaixonado e apaixonante, Lelé foi ainda jogador de futebol no
Nacional e no Força e Luz, Flamengo de Caxias - atual SER Caxias, trabalhou em diferentes bancos e também na antiga
Livraria do Globo.
Ele tinha o porte e a atitude de um rei que a gente sonha que algum dia existiu na nossa Terra Mãe Africa. A fala calma, no olhar o brilho da juventude eterna. Bom contador de histórias, não havia quem não ficasse envolvido por suas narrativas de outros carnavais.
A coroa de papelão, pintada de dourado ficou para sempre impressa na memória coletiva do povo do Areal da Baronesa.
Lelé com seu porte altivo e seu olhar de menino representou uma vitória do carnaval de rua,realmente protagonizado pelos negros no século passado.
No dia do casamento com Dona Eni a companheira de toda vida |
Lelé com seu porte altivo e seu olhar de menino representou uma vitória do carnaval de rua,realmente protagonizado pelos negros no século passado.
O registro oficial de sua idade marca 88 anos, mas acredita-se que tenha sido registrado já com alguns anos.
Agora, tal como desse Carnaval autêntico que acontecia por aqui, espaço de afirmação e preservação de nossa Cultura, ficou a imensa saudade do Seu Adão, nosso eterno Rei Lelé.
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