Renato Dornelles
As tribos carnavalescas de Porto Alegre parecem reproduzir a história do grupo étnico que representam. Já existiram muitas e, atualmente, poucas, mas bravas e resistentes, mantêm a tradição.
Se no país, os índios já foram os donos da terra, no Carnaval porto-alegrense, estiveram entre as principais atrações. Entre 1945 e meados da década de 70, existiram, pelo menos, 17 tribos carnavalescas. Hoje, são só duas: Os Comanches e Os Guaianazes.
Peculiaridade do Carnaval da Capital, a tradição das tribos começou em 1945, com a fundação de Os Caetés. Depois dela, vieram outras tantas, o suficiente para que chegassem a ter uma noite exclusiva para seus desfiles.
Agora, as duas tribos remanescentes dividem a noite de domingo de Carnaval com as escolas de samba do Grupo Intermediário A, no Porto Seco. Neste ano, será em 6 de março.
Entre as tribos remanescentes, é grande o esforço para manter a tradição. Contando com pouco apoio, diretores chegam a investir verba do próprio bolso para garantir o desfile. Além disso, conseguem o envolvimento de praticamente toda a família. Por sinal, são dois clãs que mantêm viva a chama indígena no Carnaval porto-alegrense: os Ribeiro e os Bartochak.
Os Caetés foram os pioneiros
Dois nomes ligados à história do Carnaval de Porto Alegre e já falecidos, Hemetério Barros e Rubens Silva, figuram entre os fundadores da tribo Os Caetés, em 19 de abril (Dia do Índio) de 1945. Foi a pioneira em uma tradição e peculiaridade do Carnaval porto-alegrense.
Naquela época, 22 rapazes – entre os quais Hélio Dias, ainda atuante na festa popular – nos dias de desfile, circulavam pelos coretos da cidade, cantando e fazendo coreografias.
A tribo foi uma das poucas entidades da Capital a receber o título de doutor em Carnaval pela conquista de seis campeonatos consecutivos.
- Brava resistência na base de conquistas
Fundada em outubro de 1959, a cinquentona Os Comanches vem mandando na categoria: foi campeã nos últimos 11 anos. É presidida por Valdir Souza Ribeiro, 70 anos, um de seus fundadores. Mas também tem em seu comando a primeira-dama e diretora de Carnaval, Georgina Ribeiro, 66 anos.
– No início, eu não me envolvia muito. Ficava cuidando dos filhos (tem quatro) enquanto o Dir (Valdir) dirigia a tribo. Com o tempo, passei a participar, costurando, indo às reuniões de presidentes e muito mais – conta Georgina.
Os filhos, netos e bisnetos participam da entidade, que tem sua base na comunidade da Vila São José, no Bairro Partenon.
- Manter a tradição e desbancar a rival
Assim como Os Comanches, a rival Os Guaianazes também foi criada em 1959 e, desde então, tem sua história ligada à família Bartochak. Antes, porém, seu atual presidente, o jornalista José Mário Bartochak, já havia desfilado por outras tribos:
– Saí 13 anos nos Tamoios e Os Xavantes. Depois, meu pai, Ceslavo Bartochak, foi um dos fundadores dos Guaianaezes e não saí mais daqui – conta.
Os filhos de José Mário trabalham intensamente no Carnaval da tribo.
– Mas não é fácil manter a tradição. Não temos quase que apoio nenhum. Temos que lutar muito para ir para a avenida – queixa-se.
Além disso, a tribo tem, a cada ano, o desafio de desbancar a multicampeã Os Comanches.
OS GUAIANAZES - Fundação: 30/12/1959
Tribos extintas
- Os Caetés, Arachaneses, Os Aymorés, Os Bororós, Os Charruas, Os Navajos, Os Potiguares, Os Tapajós, Os Tapuias, Os Tupinambás, Os Xavantes, As Iracemas, Os Rojabás, Os Guaranis, Os Tamoios.
Algumas peculiaridades
- Suas sedes são chamadas de tabas (aldeias)
- Utilizam instrumentos como agê (espécie de chocalho utilizado em cultos afros)
- O ritmo executado em sua músicas é mais lento do que o samba. É uma forma de lamento indígena, contando uma história (ou lenda).
- Em seus desfiles, fezem uma parada para encenar a história que estão contando em seus enredos.
COMANCHES - Fundação: 10/10/1959
''Matéria de 15/01/2011''
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