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sábado, 28 de março de 2015

PROJETO DE LEI 21/2015: PROTEÇÃO AOS ANIMAIS OU APOLOGIA AO FUNDAMENTALISMO?

Por: Kdoo Guerreiro










Nos dias 24 e 25 de março,  a Assembléia Legislativa do estado do Rio Grande do Sul sediou uma batalha épica. De um lado, a Deputada Regina Becker Fotunatti e seu Projeto de Lei que criminaliza o rito de imolação de animais durante as liturgias de terreiro. De outro, as comunidades Terreiras do Rio Grande do Sul, que encaram esse PL como fruto da intolerância religiosa e do racismo, uma vez que a referida deputada e também Primeira - Dama da cidade é também integrante da bancada evangélica.


No primeiro dia, o assunto foi levado para a Comissão de Saúde Pública para debater a constitucionalidade do ponto de vista da saúde. A deputada chegou acompanhada de seu grupo de lutadores pelos direitos dos animais e fiéis de sua congregação, que totalizavam cerca de 50 pessoas. Já na Praça da Matriz, eles se depararam com o que pode apenas ser descrito como “O Mar Branco”, composto por nada menos que cinco mil pessoas provenientes dos terreiros de todo o estado, que dançavam, cantavam e tocavam seus ilús para reverenciar seus Orixás e pedir que Xangô, o Senhor da Justiça, interceda em seu favor na preservação de sua crença. Ao se deparar com aquele quadro, o “exército” da Deputada se adiantou em fazer o que sabem melhor: incitar tumultos. Aos gritos de “ASSASSINOS”, PREFERIMOS MATAR PESSOAS DO QUE ANIMAIS” e “GENTE DO DIABO”, tentaram se infiltrar na multidão para encenar agressões que jamais ocorreriam, com o intuito de incriminar o povo de santo. A reação foi contrária, o povo permaneceu cantando, dançando e aplaudindo os adversários a cada xingamento desferido pelos mesmos. Percebendo a inutilidade de seus atos e visivelmente abalados pela desvantagem numérica, a Deputada entrou com os seus para o auditório Dante Barone, seguidos pela multidão dos terreiros, que lotou o auditório.
O que se seguiu foi um festival de impropérios por parte da Deputada e seus seguidores, que resultou entre outras coisas na declaração da mesma de fazer representações legais contra seus colegas Deputados que se declararem a favor dos povos de terreiro.

Chegamos ao segundo dia. Hoje será o dia em que a Comissão de Direitos Humanos debaterá sobre a constitucionalidade legal da PL. No acampamento montado na Praça da Matriz, que já durava três dias, os principais líderes religiosos estão em uma reunião para definir estratégias de ação: pesquisa com os deputados para ver que é contra ou a favor da PL, montagem de uma comissão de imprensa... Desta vez não houve confronto, mesmo assim decidiram convocar alguns irmãos de crença para montar um cordão de isolamento a fim de evitar problemas.
Enfim, entramos no auditório nesse clima de ânimos acirrados e mais uma vez o plenário foi tomado pelo “Mar Branco” enquanto, aos poucos, os Protetores dos Animais foram chegando. Desta vez estiveram presentes 15 pessoas ligadas à deputada, uma vez que nem os evangélicos e tampouco a própria Deputada deram as caras, alguns dizem que ela se sentiu ameaçada pelo povo, outros afirmaram que a mesma desconhecia a reunião desta noite, mesmo tendo sido previamente acertada entre a mesma e a deputada Manoela D’Ávila.  Esta turma pró – PL é composta à priori por Possíveis donas-de-casa de meia idade e jovens entre 18 e 21 anos, todos de alto poder aquisitivo, loiros ou castanho claros, olhos verdes ou azuis e (o mais importante) esposas e/ou filhos de pessoas influentes nos 3 poderes.
 Seja como for, a noite esteve como os protetores dos animais gostam: O bicho pegou desde o início, quando o presidente da mesa de debate leu um parecer do supremo tribunal favorável ao veto do PL por entender que as práticas religiosas não incorrem em assassinato cruel de animais, para desespero da turma pró – PL.

A selvageria tomou conta da turma pró – PL e gritos de “MENTIRA!”, “ VÃO ESTUDAR!” (esta, dirigida aos integrantes da mesa, formada por Babalorixás estudantes de teologia, Deputados com formação em direito e dois juízes), “RACISMO NÂO EXISTE!” e “ASSASSINOS” eram ouvidos vindos daquela turba que, dando vazão à sua descendência anglo-saxã, desferia todo o tipo inimaginável de verborréia raivosa, que de forma alguma combinavam com suas bolsas Louis Vuitton.
O debate que se seguiu, revelou o despreparo das pessoas que se mostraram meros joguetes incitados pela deputada e a bancada evangélica para esconder suas intenções discriminatórias e intolerantes. Enquanto os representantes dos povos de terreiro explicavam sobre os ritos em questão, sobre como toda a comunidade se beneficia e beneficia a sociedade como um todo, do outro lado, ouvíamos tentativas pífias de imputar aos terreiros todo o tipo crimes, inclusive ambientais.
Por fim, subiu ao plenário uma figura que resumia a futilidade de toda a turma pró – PL: desfilando como se estivesse na passarela do GAROTA VERÃO, jogando beijinhos e falando como uma gata manhosa, pegou um livro qualquer dizendo que era a constituição e dizendo com todas as letras que as pessoas na bancada eram ignorantes e nunca tinham lido a constituição brasileira, arriscando ser presa pelos juízes ali presentes por desacato. A criatura falou tanta besteira que mereceu vaias da plenária intera, que se levantou e lhe deu as costas. Envergonhados os pró – PL saíram escondidos, temendo uma retaliação do povo de terreiro, não levando em consideração que o máximo de atenção que esse povo valente lhes reservara já tinha sido dada no plenário e a única violência dirigida à esse grupo seria o de arrancar deles a certeza de uma vitória fácil, ignorando o fato de estar confrontando uma cultura milenar.

click no link e veja  video  do Auditório Dante Barone

Kdoo Guerreiro é ator, instrutor de dança urbana, ativista negro e poeta

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