Blocos carnavalescos defendem a continuidade da festa no bairro com maior infraestrutura e transparência

Foi bom ter começado cedo, às 19h desta quinta-feira, a discussão sobre o ainda longínquo Carnaval de 2016 no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. Porque o debate vai longe. De um lado, moradores pediram, na reunião específica sobre o assunto ocorrida na Igreja Sagrada Família, que o evento sofra restrições, entre elas menos blocos nas ruas e dispersão que leve os foliões para a orla do Guaíba, enquanto os blocos carnavalescos defendem a continuidade da festa no bairro com maior infraestrutura e transparência.
Presidente da Associação dos Amigos da Cidade Baixa, Roberta Rosito Corrêa citou as reclamações feitas pelos moradores, muitas comprovadas em fotos e vídeos que ela tem arquivados. Os pontos mais citados foram a sujeira (a urina dos festeiros incluída) e o fracasso da dispersão dos foliões. Segundo Roberta, os blocos não foram o problema, e sim quem ficava no bairro depois do fim das apresentações, que chegavam até as 21h.
— O desfile foi perfeito. Mas depois levava até duas horas para liberar as ruas. Prometeram limpeza pós-Carnaval, mas foi impossível — disse.
A reunião também contou com a presença de representantes da prefeitura e da Brigada Militar. O diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), André Carús, admitiu que o esquema de limpeza não funcionou. As ruas ficaram impregnadas do cheiro de urina porque os funcionários do DMLU chegavam no início da madrugada para limpar tudo com jatos d'água, mas os banheiros químicos eram retirados somente entre 9h e 10h. Também concordou que o número de banheiros foi insuficiente, e garantiu que em 2016 será diferente.
A associação e alguns moradores presentes ao encontro sugeriram a redução no número de blocos e de dias de Carnaval, que este ano durou praticamente três meses. O argumento é que o bairro já convive todo fim de semana com barulho, sujeira deixada pelas festas e brigas noturnas. A ideia foi amplamente rejeitada pelos representantes dos blocos. As duas partes estavam com presença equivalente, o que equilibrou o debate. Segundo os carnavalescos, blocos que nasceram na Cidade Baixa não podem simplesmente ser deslocados para a orla.
— Como aconteceu com as escolas de samba, que foram parar quase em Alvorada, a cultura popular seria mais uma vez escanteada — afirmou Matheus Castro, um dos organizadores do Bloco da Diversidade.
Outro questionamento dos blocos foi sobre a forma como os cachês foram pagos, conforme eles, por meio de uma entidade. Foi pedida a abertura da planilha com os valores e maior transparência para o ano que vem.
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Já os comerciantes expuseram sua opinião por meio de um integrante do conselho da sua associação no bairro, Rodrigo Bressan. Ele relatou que houve queda de 2% a 30% no faturamento dos estabelecimentos nos dias dos blocos. O que ocorria é que os bares eram mais procurados pelo uso do banheiro "do que pelo cardápio", ressaltou a presidente da associação de moradores.
O debate sobre o próximo Carnaval começou quente e deverá continuar ao longo do ano. Apesar de ainda distantes de um acordo, os participantes se comportaram com maior tolerância do que em reuniões anteriores, de acordo com as manifestações tanto de moradores como de integrantes de blocos. O que já rende um bom pontapé inicial.

Encontro foi realizado nesta quinta-feira na Igreja Sagrada Família
Foto: André Mags
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