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sexta-feira, 4 de outubro de 2019

O Carnaval dá adeus ao seu grande Cacique...

Texto: Luiz Augusto Lacerda 
Fotos: João Furquim




A chuva que cai sobre Porto Alegre não é um simples fenômeno da natureza. É Tupã que chora a partida do último guerreiro Caeté que ainda pisava forte sobre a terra, o grande Cacique...
Jaci, a lua, recolheu-se e ordenou ás estrelas que também não se apresentarem, pois a noite está triste. Guaraci já avisou que não irá aquecer e iluninar a manhã.  Os tambores calaram-se, as lanças estão deitadas e na Taba o Pagé evoca os espiritos ancestrais para conduzirem a alma radiante para a eternidade.
O carnaval perdeu na noite de quinta-feira um dos seus maiores símbolos, o folião "Griot" Hélio Dias. Seu Hélio, Tio Hélio...
Partiu no alto dos seus 92 anos levando consigo a magia de áureos tempos onde carnaval era poesia, fantasia e emoção. Homem de conduta ilibada, é reverenciado por todos aqueles que entendem a sua importância impar para o contexto geral da cultura popular. Seus cabelos alvos de sabedoria ainda sentiam a presença do cocar feito com penas de Ema que em 1946 passou a coroa-lo devido a fundação da primeira Tribo Carnavalesca da cidade, Os Caetés. Desde então Seu Hélio acompanhou e muito contribuiu para as transformações vividas pelo Carnaval. Simpático e amável possuia como marca registrada a cordialidade e o carinho os quais fazia questão de demonstrar aos amigos em todos os encontros. Dono de um abraço acolhedor e de uma alegria contagiante era uma das figuras mais tradicionais que se fazia presente nos eventos relacionados a festa de Momo.
A partir de hoje o carnaval tornou-se órfão...


Não teremos mais quem exclame os bordões autênticos "Oh Cabra!" ou "Oh Cabrocha!"...
A quem iremos chamar de "Cabrocho"?
Quem irá nos contar com riquezas de detalhes sobre a beleza de um Carnaval que perdeu-se no tempo?
As sociedades Negras também perdem um de seus mais dignos expoentes...
Hoje a Locomotiva da União da Vila do IAPI não apita, a Coroa da Realeza perdeu o vigor e a sereia da Copacabana não entoa seu canto sedutor. Hoje todas as bandeiras e estandartes das Escolas de Samba de Porto Alegre estão de luto, assim como todas as baterias silenciaram-se.

Talvez Seu Hélio tenha partido sem entender a sua importância, sua magnitude para a cultura popular. Foram mais de 60 anos dedicados ao carnaval atuando na organização da festa, como presidente e diretor de carnaval de muitas entidades.

Deixa como legado o amor pela folia cultivada em sua família e as maiores lembranças depositadas nos corações de no mínimo 3 gerações.
Obrigado Seu Hélio!
Obrigado Tio Hélio!
O carnaval lhe agradece por tudo o que o senhor construiu!
Seguiremos aqui honrando sua memória...

Aplausos para Seu Hélio Dias!

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